quinta-feira, 20 de maio de 2010

Labruja


Todos temos uma raiz que nos prende à terra e nos dá força. A minha raiz está escondida numa pequena aldeia do Minho, que se chama Labruja.
O nome advém de La Bruja por, segundo dizem os antigos, existirem muitas bruxas nas redondezas. Na verdade, a Labruja é repleta de lendas e mitos que a tornam ainda mais idílica para mim.
Muito perto da fronteira com Espanha, esta aldeia tem muitas influências na linguagem desse país irmão, o que confere um encanto adicional às pessoas que lá vivem.
O meu pai e a minha mãe nasceram na Labruja. Toda a minha família tem a raiz lá e é lá que vai recarregar a bateria sempre que pode.
Quando era criança, tive a sorte de passar as férias todas na Labruja com a minha avó. E a lembrança que sempre trago comigo desse lugar é o cheiro. Um cheiro tão particular que quando lá retorno e inspiro o ar, comovo-me e digo para mim mesma "cheguei a casa". Este cheiro muta-se e todas as suas versões me remetem a esta sensação acolhedora de lar.
No Inverno é uma mistura de fogões a lenha, terra fértil condensada de chuva, hortaliças rechonchudas, tangerinas e limões e chouriços a curar em fumeiros de ramos de loureiro.
No Verão, o cheiro é intensamente verde, cheira a eucaliptos e pinheiros, a flores, a uvas maduras nas latadas das vinhas, cheira à vaca que por vezes passa, às casas de granito ao sol, aos fogões a lenha.
Acordar na Labruja é receber o sol na face, ouvir os pássaros nas árvores, ouvir o sino do mosteiro a dar as horas e os vizinhos a falar alto naquela linguagem fantástica ao passarem no caminho.
Adormecer na Labruja é ouvir os grilos e as cigarras, o sino do mosteiro a tocar as horas e por fim o silêncio.
Gosto de passear sozinha na Labruja. Sentir os cheiros, o silêncio, observar as libelinhas a voar baixo junto à face do rio rendilhado de sombras das árvores, ver as casas brancas com chaminés a fumegar, respirando sempre bem fundo, para guardar em mim aquela pureza, aquele prana poderoso que só encontro na minha terra.
Na Labruja, ajudei animais a nascer, aprendi a cortar erva, a cozer broas de milho, a fazer cidra, chouriços, vindimei, plantei vegetais e flores, comi frutos colhidos da árvore momentos antes de os descascar, comi morangos selvagens e amoras deitada na erva alta enquanto as vacas pastavam por perto, desfolhei milho e esbulhei-o.
Aprendi a respeitar a natureza, aprendi a ser parte dela.
Agora, mulher feita, a Labruja está diferente, mais modernizada, é raro ver uma vaca, é raro passar alguém com um feixe de erva à cabeça. Aliás, é raro passar alguém... no entanto, o cheiro permanece o mesmo da minha memória de menina e o desejo de lá voltar e inspirá-lo impele-me sempre a ir e a regressar à cidade renovada. E feliz.

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